quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Reflexão sobre o tema bullying de Martha Guedes (servidora do TJ-MG)

Incorrendo no risco de ser reputada uma tia coruja, ouso discorrer sobre esse tema, fazendo menção a um episódio pessoal.

Recentemente, levei uma sobrinha de sete anos a uma festa. Embora se tratasse de festa de adulto, no local encontravam-se várias outras crianças da mesma faixa etária. Ela teve o privilégio de nascer abençoada pela mãe natureza: esguia, traços finos, cabelos ondulados longos, olhos de um verde claro intenso. Impossível não admirá-la. Porém, o que mais desperta minha corujice é o seu comportamento diferenciado. Observei, com satisfação, que os papéis e guardanapos que ela usava, como aliás de praxe, ela os depositava num cantinho discreto da mesa e depois os recolhia numa lixeira, que ficava do outro lado do salão. Por dois momentos, ela, incentivada por mim, deslocou-se para junto de outras crianças que brincavam numa ala do salão de festas, mas retornou logo depois. No primeiro retorno, disse-me que as outras crianças estavam jogando refrigerantes para cima e que ela não gostava daquela brincadeira. Já no segundo, disse-me que as demais crianças não conversavam com ela. Deixei-a então do meu lado, e não mais a incentivei a voltar à ala das brincadeiras.

Esse episódio desencadeou-me uma reflexão. Será que a aceitação em um dado grupo exige padronização de comportamento? Entre os seres irracionais a resposta afirmativa é imperativa. Mas, e dentre os humanos?

Assistimos, nos últimos anos, um bombardeio de discursos tratando da inteligência emocional. Fatalmente, para os adeptos da teoria difundida pelo psicólogo, Daniel Goleman, o indivíduo com essa dificuldade de interação seria reputado carecedor da chamada inteligência emocional. Uma simples resposta, para uma questão altamente complexa.

Muito se discutia sobre os diversos tipos e formas de discriminação. Todas nefastas e merecedoras de repúdio, porém pouco se ouvia sobre essa outra forma, que por se mostrar silenciosa e indireta, passa despercebida aos olhos dos menos atentos.

Não obstante o tema ”bullying” esteja na pauta dos mais recentes discursos entre os operadores de Direito e Educação, espero que tais informações possam se estender por toda a sociedade civil. Nego-me a crer, que a atitude mais correta seria incentivar a minha sobrinha a ter um comportamento diferente, visando uma maior aceitação.

Ademais, é perceptível que a sociedade apresenta graus diferenciados de comportamentos. Uma conduta reputada comum aqui, possivelmente não o seria em um país de maior desenvolvimento. Aliás, numa mesma comunidade é possivelmente observarmos os diversos padrões. No entanto, é cada vez maior a aproximação entre as pessoas. A globalização aproxima as nações, as cidades vão se aglomerando, as casas passam a ser substituídas por grandes prédios em condomínio, as distâncias são superadas pela internet, o ser humano está cada dia mais próximo do seu semelhante. Essa é uma realidade inevitável! Não se pode portanto conceber, que no estágio atual da evolução dos direitos humanos, pessoas sejam penalizadas por apresentarem um padrão físico ou psíquico diferente da maioria de um dado grupo. A tolerância e o respeito hão de ser a mola propulsora dessa evolução que tanto almejo. Oxalá, espero que minha sobrinha possa dela ainda desfrutar-se!

Marta Guedes

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